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Ela e o Jorge

Uma crônica um pouco vulgar

Acordei cheia de tesão tipo aqueles dias que sentimos prazer só de cruzar as pernas — mas é óbvio que hoje nós vamos à uma casa de swing!

­­— Ed, vamos naquela mesma da semana passada?

­— Só se for para conseguir transar dessa vez ele pegou o charuto e deu aquele trago com estilo ­­— você vai usar aquela meia que eu adoro? — Apontou com o charuto para minhas pernas.

— Se você colocar mais whisky no meu copo eu posso pensar no seu caso — dei um sorriso de canto de boca e abri as pernas. Ele bicou o copo e abocanhou o lábio inferior tentando não deixar a bebida escorrer.

— Você faz de propósito e depois reclama que eu não te deixo dormir.

Estávamos na sala de nossa casa em uma tarde nem muito fria e nem muito quente. Na verdade estava quente demais para ficar com blusa e frio demais para ficar sem. Tenha dó das minhas articulações de quase quarenta.

— Eu te beijaria por horas , sabia? — Olhei para ele maliciosamente — Mas... não quero estragar o clima da noite! Sei muito bem, que se começarmos agora, acabou nossa diversão noturna, e vamos combinar, eu preciso dela!

— Nem acredito que depois de tanto tempo você é só minha...

Semana passada decidimos sair no último segundo depois de passar um dia corrido entre gritos de "não corre" e "volta aqui" com as crianças num parque próximo. — Não hoje! Deus salve as avós! — Estávamos tranquilos com a casa somente para nós esperando dar o horário de ir gandaiar.

— Sai logo do banho senão eu mesmo te tiro daí! — Ele bateu na porta falando com aquela voz grossa que me faz molhar a calcinha em dias como esse.

— Pode vir tirar! — Falei alto enquanto ele já abria a porta.

— Assim você me quebra no meio.

— Que foi? — Sorri ironicamente — não disse que me tiraria do banho? Estou esperando...

— Adoro quando você se lava agachada...

— Já está imaginando besteiras?

— Besteira nenhuma... — inclinou a cabeça para esquerda tentando ver melhor — garota, garota...

— Aumenta o volume! Adoro essa música! — Comecei a cantar enquanto rebolava agachada provocando-o — Layla... You've got me on my knees, Layla.

Ele continuou:

— Begging darling please, Layla... — sorriu — você sempre me deixa louco enquanto rebola com essa música!

— Vem passar o sabonete nela pra mim — abri mais as pernas.

— Camila... — abaixou no box e colocou a mão em mim passando os dedos contornando ao redor de toda ela.

— Opa, pode parar! Nada de enfiar...

— Por que você faz isso?

— Você deveria ficar agradecido que eu te estimulo para que a noite seja melhor ainda. — E ele tem que ficar muito agradecido, afinal, uma casa de swing em pleno sábado de feriado vai ser um desafio e tanto.

Coloquei meu vestido solto matador. A cintura fica justa e a saia do vestido bem rodada deixa meu quadril ainda maior. — Com essa calcinha de renda branca soltinha, ele nem terá o trabalho de tirar.

— Adoro quando você usa essa camisa... So sexy! — Ele riu envergonhado.

— Eu dirijo hoje, Dama!

— Adoro quando você me chama de Dama. Parece que a noite swinger me transforma nela. — Olhei levantando as sobrancelhas — e você só vai dirigir hoje, pois estou sem carta. Você lembra o motivo que me fez ficar sem carta? Ótimo momento para falarmos sobre isso, não acha?

— Que jogo baixo...

— 230 pontos, Edgar! — Entrei, fechei a porta do carro e olhei para ele — nunca vou superar....

— Multa de rodízio... Maldito estado!

— Quando estiver liberado para que eu possa refazer as aulas, você vai me dever duas semanas de favores intermináveis. Se prepara!

Trinta minutos depois.

— Que transito...

— Está ansioso?

— Tem como não ficar?

— Estamos a um quarteirão. Calma homem! Parece que não tem uma boa experiência a meses.

— É para rir? — Me olhou franzindo o cenho.

— Está bem, eu não queria te zoar.

— Quis sim! — Riu — não tenho culpa que durante o sexo ela quis arrancar minha pinta do rosto achando que era uma sujeira.

— Eu também brocharia se tivesse um pênis, Ed. — Mordi o lábio superior segurando o riso — é normal.

Ficamos em silêncio alguns minutos.

— Ela achou que era uma cagada de pombo na minha cara?

Nos olhamos e gargalhamos.

— Caramba, está cheio hoje. — Falei surpresa.

— Ainda bem que tem valet!

Ele saiu deixando a porta aberta para o manobrista.

— Boa noite!

— Fala, chefe! Bom divertimento.

— Valeu!

O homem olhou para minhas pernas quando entrou no carro e eu sorri arqueando a sobrancelha para meu marido.

— Falei que esse vestido é especial — sussurrei enquanto envolvia meus braços no dele.

Ao entrar nos deparamos com muitas pessoas.

— Swing está se tornando popular, Ed!

— Pois é! Logo não iremos conseguir mais entrar sem fazer reserva. Mesa mesmo não tem mais nenhuma — fez uma pausa — inferno de trânsito!

— Quarta...

— Quarta o quê?

— O número de vezes que você reclamou do trânsito hoje.

— Mentira! Foi uma só.

— De manhã na padaria, na volta da farmácia, vindo para cá e agora.

— Mas está um caos essa cidade mesmo.

— Você vai ser um velho "reclamão" — suspirei — mas muito gostoso. Isso, um velhote gostosão!

— Vou adorar te pegar quando ficar uma coroa.

— Eu já sou uma coroa, Ed!

— Não... hoje você é paranóica com a realidade distorcida dos fatos.

Segurei a riso.

E nada de achar um mísero lugar para sentar. Balada rolando forte, muitas mulheres sem blusa dançando e até uma turma de amigas solteiras fazendo arruaça no centro.

— Elas entornaram o caldo!

— Deve ser despedida de solteira.

— Será? — Apontei para o bar — vamos fazer o mesmo.

— Boa! O que você quer?

— Vodca!

— Ô loco! O que aconteceu com o saquê?

— Com essa super lotação? Hoje eu preciso de vodca!

Entre bebidas e esbarrões no bar, mantive os olhos atentos ao movimento. Um homem se aproximou e cheirou meu cabelo achando que eu não percebi. — Ele vai levar um susto quando perceber que estamos de frente para um espelho. Quando ele levantou os olhos deu de cara comigo no reflexo. Sorri como se perguntasse: — Está bom cafungar em mim? — Ele me olhou constrangido e sorriu amarelo se virando para sua esposa nada satisfeita.

— Vamos à caça!

— Falou a predadora!

— Você me desmotiva, Ed.

— É só uma constatação. Você acha que quer, mas quando chega na hora, não quer!

— Eu não tenho culpa que algumas pessoas são esquisitas — detesto gente afoita.

Anda, anda, anda. Entra e sai de sala, cabine, labirinto. Esbarra em gente, cola nosso braço suado no braço suado dos outros, pede desculpa e emenda com um: — Ôpa, desculpa. Anda mais e pisa no pé de alguém. — Inferno! Ela pisou no meu pé com o salto agulha! Que dor!!!

Olhei para meu marido fazendo cara de quem queria gritar alto.

— Calma… Respira...

— Não fala nada! Quanto mais você fala, mais dói. Faz silêncio! — meu pé nunca mais será o mesmo depois disto.

Todos pareciam estar na caça, mas predadores gourmet; ninguém se decidia no prato. Era como passar a semana toda imaginando assistir um filme no sábado e gastar praticamente duas horas tentando escolher um entre vários títulos, mas desistir.

As pessoas se olham, se paqueram, mas a interação não evolui. — Parece que quanto mais cheia a casa de swing e quanto mais opções cada um tem, mais dificuldade de decidir.

— Todos estão parecendo duplas de baratas presas em uma caixa com vários compartimentos.

— Todos, inclusive nós, né? Estou zonzo de entrar e sair, mas não reparar em ninguém.

— Vamos na área de singles!

— Tem certeza? Nem posso imaginar como está lá!

— Ed, não vamos transar mesmo. Além de não ter espaço e o open bar causar uma catástrofe na etiqueta social das pessoas, ainda está quente — o ar não está dando conta daqui hoje! — Quem sabe arrumamos uma boa transa para espiar, vamos embora, transamos em casa e pedimos uma pizza.

— Eu queria não ter criado expectativas… Juro que queria!

— Queria ou não queria?

— Queria não.

— Hum… Às vezes te acho meio disléxico — estiquei a cabeça para olhar por cima do ombro de um monte de singles parados ao redor de alguém. — O que está acontecendo aqui? Vamos lá ver…

— Calma, que tem muito cara solteiro aqui. Vamos entrar devagar, senão vão achar que queremos tudo.

— Relaxa, amor. Ninguém coloca a mão em ninguém sem permissão.

Ouvi um gemido alto. — Oba, alguém está se aventurando no público! — Vem, amor. Vamos espiar!

Entrei e me surpreendi.

Uma mulher jovem muito bonita, deitada na cama redonda do centro, um homem sessentão grisalho de pé segurando a mão dela e uns quinze homens solteiros apenas olhando.

— Essa cena é nova para mim. Por que os homens não chegam nela.

Ela gritava com sotaque carioca arrastando o “r”.

— Jorrrr(s)ge! Me trás mais piroca!

Jorge respondia com uma paciência descomunal.

— Já vai… — e olhava para os homens implorando que alguém desse o primeiro passo.

Nenhum solteiro ia…

— Jorrrr(s)ge, cadê os pirocudos desse lugar? — E tremia as pernas.

Ela levantou, ficou de quatro na cama e berrou:

— Você disse que me daria uma piroca hoje, Jorge! Eu quero os pirocudos desse lugar!

Ed segurava o sorriso, já eu olhava os detalhes da expressão daqueles homens ao redor. — Estou me sentindo uma antropóloga.

Um se aproximou, olhou para Jorge que retribui o olhar aliviado.

O rapaz colocou a mão nela e cheirou enquanto ela gritava. — Ele foi conferir se era seguro né? Que coragem!

Ela disse:

— Ai, isso mesmo! Pode vir.

O homem abriu a braguilha enquanto todos olhavam para ele. Os outros solteiros admiravam sua coragem de levar sua nobre piroca até a companheira de Jorge. Não que alguém tivesse feito isso, mas eu percebi os “tapinhas” de incentivo que aqueles homens deram, mesmo sem encostar nele.

Jorge oferece uma camisinha. Ela grita mais:

— Jorrr(s)ge, dá logo a camisinha para o pirocudo! Você fazia assim com sua ex-mulher Jorge? Deixava ela esperando?

Jorge me olha de saco cheio. Eu olho para Jorge com solidariedade.

Os homens faziam fila para tocar no corpo dela, alguns cheiravam a mão depois. — Ainda parecemos primatas! — Exclamava em pensamento reparando naquele padrão de comportamento.

O homem se sente desencorajado. Está difícil se motivar sendo chamado por algo que ele não é, quando todo mundo tem certeza, só de olhar.

Eu torci… — Vai que você consegue, amigo! Jorge conta com você!

Preservativo colocado e ele tentou, mas entrava torto quase dobrado. Olhou para Jorge que lamentou profundamente por aquilo, afinal ele achou que estava prestes a acabar.

Quando ele saiu, todos se afastaram e ficou só ela, Jorge, Edgar e eu na sala.

— Jorrr(s)ge, você mentiu para mim… Não tem pirocudos nesse lugar.

— Já chega, Clarisse.

— Já chega, não! Venha aqui agora me chupar.

Jorge respirou fundo e desceu até lá. Pobre Jorge…

Ed me perguntou:

— Por que ninguém foi?

— Os homens querem disputar entre si… Que disputa tinha ali?

— Aquele rapaz era o mais desesperado?

— Eu diria o mais corajoso. — Suspirei —Vamos?

— Vamos…

— Pizza?

— Com certeza!

Jorge achou que seria uma boa trocar a mulher que ele conheceu na faculdade por uma de vinte cinco.

“Força Jorrr(s)ge”





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